Carlos José Marques, diretor editorial
PT e Governo iniciam 2016 trocando
farpas. Repetem o mesmo ritual do ano passado. Os dois querem resgatar a
imagem. Mas por caminhos adversos. O PT e as agremiações radicais que
lhe dão sustentação, como a CUT, pregam uma “guinada à esquerda”.
Sugerem largar mão de ajustes e de medidas anti-inflacionárias. Exigem –
e o termo é esse mesmo – “boas notícias” na forma de incentivos e larga
distribuição de crédito. Sem limitações nesse aspecto! Almejam a volta
da festa. Afinal, em ano de eleição, precisam mostrar o dinheiro
girando. A conta que fique para depois! Os cérebros petistas elaboraram
uma espécie de “Carta ao Povo Brasileiro”, já entregue ao Executivo, com
ideias bem pouco ortodoxas. Ali está um festival de insanidades, como o
uso de parte das reservas do Tesouro para bancar os gastos extras e até
o pedido de um empréstimo à China. Ao todo são 14 medidas que passam,
fundamentalmente, por um intervencionismo estatal fora de hora. Aplicado
na marra. No contraponto dessa corrente, o ministro da Casa Civil,
Jacques Wagner, ensaiou um mea culpa em entrevista concedida na semana
passada ao Jornal Folha de S. Paulo. Disse que o PT se lambuzou no poder
e despertou assim – claro! – a ira nas hostes do partido. Logo ele que é
candidatissimo à corrida presidencial, caso Lula abdique da
preferência. Wagner fez, na verdade, um movimento ensaiado. Quer lustrar
a carapuça do Estado com algum senso de responsabilidade e altruísmo.
Assume erros. Faz autocríticas. Promete mudanças sem rupturas. Dilma
reiterou o discurso. Falou em café da manhã com jornalistas que não terá
“guinada à esquerda”. Como no palanque, alegou governar para todos. Não
apenas para o PT ou PMDB. Disse estar preocupada com o equilíbrio
fiscal e a meta, mínima, de 0,5% de superávit. Diferenças postas entre
PT e Governo, foi Lula, mais uma vez, quem se arvorou o papel de
bombeiro, jogando água na fervura. Apelou para que não haja
enfrentamento público e para que o Planalto e o partido diminuam suas
rusgas. Lula gosta das propostas do PT e prega a imediata aplicação
delas. Ao menos no que tange o princípio de resgate de uma agenda
positiva. Só não sabe como fazê-lo. Dilma, por sua vez, levantou a
hipótese de uma reforma da previdência. Promessa tão antiga como a sua
incapacidade para levá-la adiante. A presidente não conta sequer com
base política suficiente para tomar a dianteira dessa batalha. Ao
contrário, tem logo ali adiante uma guerra, muito mais decisiva, por sua
sobrevivência no poder. E nesse confronto vai precisar, mais do que
nunca, do PT ao seu lado.
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