BARBEIRO
A doença de Chagas fez mais uma vítima no Pará. Terezinha de Jesus Silva, 69 anos, morreu na manhã de ontem na Fundação Santa Casa de Misericórdia em função da doença. A Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) confirmou a morte e ratificou o alerta para o surto da doença.
Segundo uma fonte do Instituto Evandro Chagas, a mulher morava no bairro do Telégrafo, em Belém. A idosa, segundo a fonte, deu entrada no hospital no último dia 13. Portadora de outras doenças que teriam agravado o quadro, ela chegou a ser internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu.
Porém, o surto de doença de Chagas apontado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) em reportagem publicada na edição de ontem do DIÁRIO não fez vítimas apenas no Pará. A coordenadora estadual do programa de doença de Chagas, Elenild Góes, informou que uma família que esteve em Belém para o Círio de Nazaré contraiu a doença e que um dos integrantes, também idoso, morreu no Hospital de Araguaína, no Estado do Tocantins, na terça-feira passada.
“Aproximadamente 10 membros da família estão com a doença. Mãe, pai e dois filhos vieram a Belém para visitar os demais. Quando retornaram foram diagnosticados com Chagas. O pai não resistiu e faleceu, a mãe e os filhos permanecem internados em estado grave”, contou Elenild.
Com estas duas mortes, sobe de oito para 10 o número de pessoas mortas só este ano em decorrência da contaminação no Pará pelo protozoário Trypanosoma cruzi, agente causador da doença de Chagas.
Segundo Leila Flores, coordenadora de vigilância epidemiológica da Sesma, em Belém foram registrados cerca de 30 casos de pacientes com doença de chagas, 22 destes foram notificados a partir de setembro. “Este aumento realmente é preocupante. Estamos investigando, em parceria com a vigilância sanitária, como ocorreu a contaminação. Verificamos que em sua maioria os pacientes adquiriram via oral, temo que outras pessoas do convívio destas também apresentem a doença”, alerta.
CASOS
Questionada sobre a existência de outros casos de pacientes internados em estado grave, Leila destaca que existem apenas dois casos de internação, mas que há apenas a suspeita da doença que deve ser confirmada, ou não, através de exame. ”Os casos confirmados realizam apenas o atendimento ambulatorial e estão recebendo todo o tratamento, obedecendo a todos os procedimentos”.
Ainda é outubro e o número de mortes já superou o verificado em 2010, quando foram notificados cinco mortes. A constatação acionou o alerta em relação à necessidade de prevenção. No Brasil, 80% dos registros da doença são provenientes do Pará.
Ainda não se sabe, porém, se as contaminações ocorreram em função do consumo de açaí. “É comum ter um aumento de casos neste período do ano, o que pode ter uma relação com o período de safra do açaí. Não sabemos se estes casos especificamente se referem a este tipo de contaminação. Mas, por terem sido feitos por via oral, é possível, sim, que o consumo do açaí tenha influenciado. Ainda, estamos investigando esta causas”, destacou Flores.
Pesquisa realizada por cientistas da Unicamp mostrara que o protozoário causador da doença é capaz de sobreviver na polpa da fruta em temperaturas que variam de 4°C à temperatura ambiente, chegando a -20°C, no caso do açaí congelado.
“É preciso esclarecer que a contaminação ocorre quando não existem cuidados com a higiene. Acreditamos que no caso do açaí, a contaminação em geral acontece quando um barbeiro ou as fezes dele se misturam com a fruta durante o processamento, e alguns casos até os reservatórios estão contaminados”, esclarece Leila.
POSSÍVEIS SURTOS
A Sespa analisa possíveis surtos da doença em vários bairros de Belém, entre eles Telégrafo, Pedreira, Umarizal, Jurunas, Terra Firme, Condor, Catalina, Cremação, Batista Campos, Mangueirão e Águas Lindas.
Brasil dobrará produção de medicamentos
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou ontem que o Brasil vai dobrar a produção do medicamento para doença de Chagas, o Benzonidazol. A medida foi anunciada coincidentemente após a divulgação de matéria do DIÁRIO sobre o aumento de número de casos da doença no Pará. Tem crescido também a taxa de mortalidade em decorrência da doença no Estado.
O Brasil é o único fabricante mundial do medicamento contra a doença e com o aumento da produção vai atender também Bolívia, Colômbia, Venezuela, Argentina, Paraguai e Uruguai. Está prevista a entrega de 3.425.000 comprimidos até 31 de dezembro.
‘’O Brasil vai atender toda a demanda da OPAs/OMS por medicamentos para Chagas. Queremos participar do esforço mundial em ampliar o acesso à saúde’’, anunciou Padilha. Ele explicou que esta capacidade de atendimento foi resultado de uma articulação do Ministério da Saúde com os laboratórios produtores Lafepe e Nortec, juntamente com a Anvisa. “O Brasil foi o único país que assumiu o desafio de produzir um medicamento negligenciado, de tecnologia complexa”.
A demanda sobre o produto cresceu 113% em relação à projeção inicialmente realizada pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) e o Drugs for Neglected Deseases Initiative (DNDI). Passou de 1,5 milhão de comprimidos para 3,2 milhões. Deste total, 1 milhão será para estoque estratégico.
CRONOGRAMA
A partir deste crescimento, o cronograma de produção foi redefinido. De imediato, 225 mil comprimidos serão liberados para o Médicos Sem Fronteiras, para atender os casos mais urgentes. O medicamento será remanejado do estoque estratégico do Ministério da Saúde e do Lafepe. Mais 200 mil comprimidos serão entregues até o final de novembro. Em 15 de dezembro, serão disponibilizados 1 milhão de comprimidos. E outros 2 milhões de comprimidos serão entregues em 30 de dezembro.
A doença de Chagas é uma doença infecciosa febril causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que se adquire por meio do contato direto com as fezes do inseto conhecido como ‘’barbeiro’’. No Brasil, a transmissão pelo inseto domiciliar foi interrompida, mas predominam os casos crônicos. Estima-se que existam entre dois e três milhões de indivíduos infectados. A ocorrência da doença de Chagas aguda no país tem sido observada principalmente em decorrência da transmissão oral, por meio de alimentos contaminados, como pode ser o caso do açaí.
SINTOMAS
Os principais sintomas da fase aguda da doença são: febre prolongada (mais de 7 dias), dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas. Especialmente quando a transmissão é oral, são comuns dor de estômago, vômitos e diarreia. Devido à inflamação no coração, pode ocorrer falta de ar intensa, tosse e acúmulo de água no coração e pulmão. No local da entrada do parasita, normalmente a picada do barbeiro, em geral aparece lesão semelhante a furúnculo no local.
FONTE: Diário do Pará
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